quarta-feira, 23 de maio de 2012

Folhas de Outono




Abri minha janela e minha surpresa foi tamanha
A manhã estava fria, cinzenta, estranha...
As cores haviam sumido
Para onde foi o brilho todo, o colorido?
Os passarinhos não cantam o nascer do sol...
As aquarelas que tingiam as flores
Agora cobrem o chão...
E galhos secos balançam ao vento...
Culpa do tempo que trocou a estação...
Levou embora minha primavera
E com ela a alegria que aquecia meu coração
Agora não é o sol que vem tocar minha pele
Mas o vento que corta o rosto
Que move as folhas secas pelo chão
Rosto com linhas finas de expressão
Linhas que marcam o tempo, os anos, não importando a estação
Minha roseira parece morta
E meio torta se verga ao chão
Feito minhas esperanças que rolam com o vento
Junto com as folhas de outono
Que de tempo em tempo...
São renovadas pela nova estação.

Andarilha Errante




Ando por aí a procura de olhares
De lugares pra chegar
Porta aberta, pouso
Um aconchego gostoso
Onde possa descansar
Ando por aí a procurar por mim e por ti
Por estradas de poeira, onde sonhos se constroem
Se destroem, se camuflam na paisagem
Miragem tua logo à frente
Me diz pra caminhar
Caminho sem destino
Sem parar
Sem nunca te sentir
Te encontrar
Poder chegar...
Ando por aí, de lugar a lugar
A procurar...
Por amor
Por um lugar onde morar
Onde os pés possam parar
Criar raízes, repousar.
No aconchego de um abraço
Na cumplicidade de um olhar.
Aportar meus sonhos
Meus desejos e segredos
Construir meu mundo
Meu futuro
Este segundo em que me perco a sonhar.
Ando por aí a procurar
Por um lugar onde não falte
Um horizonte a me guiar!
Ando por aí...
Sou do mundo errante
Sou tua, embora distante
Andarilha amante!



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Rotina




As luzes da manhã me dão bom dia
O sol beija as rosas, as flores, as árvores
O vento sacode a poeira, balança as roupas no varal
O Sol quente toca a pele, toca a alma, aquece o sangue
Pinta de amarelo um brilho infinito em meu sorriso
E o vento segue trazendo o cheiro do pão quentinho da padaria da esquina...
Traz também o cheiro de roupa limpa que ficou voando no quintal...
O vento traz até mim teu perfume num ritual de encontro matinal.
E a vida segue seu curso de esquina a esquina...
O barulho dos carros, das gentes, das mulheres e seus saltos altos...
É o transito, o corre-corre, as buzinas!
É a vida em seu ritmo habitual.
E eu sigo ouvindo o tic-tac do relógio
O toc-toc das portas em seus infinitos corredores do prédio da faculdade.
Sigo deixando para trás o barulho do meu salto-alto
Sigo deixando o rastro doce do meu perfume
Sigo deixando a saudade e os segundos que não voltam mais
Sigo deixando as horas, as pessoas, os momentos, os rituais matinais.
Eu sigo pelos corredores, passo as portas, entro no carro, pego a avenida...
Eu paro no sinal da padaria da esquina...
E eu sinto o cheiro do pão quentinho saindo do forno...
Eu vejo as gentes, as coisas e seus rituais...
Eu volto pra casa
Eu tiro os sapatos
Eu sento na cama, me fecho no quarto...
Eu sinto teu perfume, minha pele aquece, o sangue ferve...
Eu abro meus olhos, que luz é esta?
Rompendo a janela são raios de sol!


domingo, 6 de maio de 2012

Fender






O silencio lá fora me diz que já é madrugada
Embora eu não veja o ponteiro do relógio se mover
Ele ainda marca a mesma hora da fria manhã em que partiste
Sorrindo acordaste e sorrindo foi-te embora...
Faz madrugada lá fora e as ruas vazias te chamam
Proclamam teu nome!
O ego que inflama
O orgulho que cega com a fama.
Faz madrugada lá fora
Faz silencio aqui dentro
Só meu coração que grita, chora!
E no silencio eu escuto as risadas, os estilhaços de copos, garrafas, gritos, aplausos...
Tudo efêmero... Falso!
E eu nunca quis te ver sofrer.
Eu nunca quis te fazer sofrer...
Eu nunca quis te ver morrer...
Eu nunca quis te perder
Dói não te reconhecer...
Dói não te ouvir
Dói te sentir...
Dói ver te vender...
Como doeu te perder...
Dói te querer,
Fender!

Não vibramos mais na mesma freqüência...

Tu partiste sem mim
Deixando-me assim, coração em frangalhos!
Dos sonhos que nós tínhamos
Um restou esquecido
Nosso amor, "carta fora do baralho"!

sábado, 5 de maio de 2012

Retrato





Esta manhã olhei o teu retrato
Ainda não acabado
Faltando retoques finais
Vejo-te embaçado
Atrás das lentes de meus óculos
Por tanto ter chorado
Lá está o falado quadro
Que fiquei de terminar
Como o que por ti sentia
Que não consigo abandonar
Rabisco-te toda a noite
Mas sem nunca acabar
Na esperança que regresses
Antes da tinta secar
E se nunca mais voltares
Nem se quer para buscá-lo
Eu hei de te manteres
Eterno ao meu lado
Em uma noite qualquer
Quando a saudade vier
E ver-te inteiro em minha mente
Hei de te sentir presente
Ver-te a me encarar de frente
Sorrindo calado
Pendurado na parede
Pois no coração já estás gravado
Desenhado pelas mãos de Deus
Com tinta permanente!