domingo, 15 de maio de 2011

Epitáfio




O amor havia morrido já fazia um tempo. Tanto que ela nem se lembrava mais qual era seu rosto, ou que nome tinha.  Mas ainda recordava-se de uma presença que outrora esteve ali, entre aquelas paredes, no lugar vazio ao seu lado.
Faltava-lhe algo que não sabia distinguir ao certo o que era. E, de vez em quando, chorava uma saudade...
Chorava pela falta do amor que nascera morto, mas que, de certa forma, ainda não havia lhe deixado. Porém ela sabia que para seu próprio bem, ele precisava ir...
Ela sentia por não ter havido sequer despedida, nem adeus, nem abraços, nem beijos falsos trocados... O amor sumira simplesmente em uma tarde e não mais voltara. Ela ficou ali a esperar-lhe... em vão.
Era preciso libertar-se. Deixar o amor seguir, fazer sua passagem.
Então, ela vestiu de negro, ascendeu velas e incensos, orou para que o amor a deixasse, para liberta-se. Ajoelhou-se e suas lágrimas mancharam a fotografia desbotada que ela guardava como lembrança do que vivera. Lembrança de um amor que nem nascera.
Os espinhos das rosas que segurava feriram-lhe as mãos e sobre sua face lágrimas escorriam sangrentas do túmulo outrora chamado coração.
Deitou as rosas sobre a fotografia. Levantou-se enxugando as lágrimas e partiu enquanto seu coração novamente sorria... deixando para trás o amor morto e enterrado.  Levando consigo a certeza de que todas as lágrimas já haviam sido derramadas, todas as dores já haviam sido choradas e todas as lembranças, de outrora, apagadas, esquecidas. Resumidas a um simples ritual de passagem...
Pô-se de pé sobre o esquecimento. Olhou de lado o amor natimorto e despediu-se, nada mais seu havia ali, era hora de ir.
Caminhou sentindo o vento levar de si a saudade.
Após o funeral, liberdade.
Enquanto partia, sobre a lápide, lágrimas vertiam e em silêncio o pobre amor sofria.
Tentou gritar em vão pois ninguém ouvia...
Enquanto ela se sentia livre o amor mais preso se via...
E a única coisa que restava ao velho amor era uma frase deixada por ela em despedida. Uma frase que esculpira com o próprio sangue sobre a lápide fria: "Aqui jaz o Amor que descanse em Paz pela eternidade..."

2 comentários:

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